Por: Ana Bravo, nutricionista
As mulheres bebem cerveja. Penso que não constitui novidade para ninguém, nem é uma verdade que choque os mais sensíveis o reconhecimento deste fenómeno entre o género feminino. Certamente que conhece alguma mulher, ou várias, que consomem cerveja. Possivelmente até mesmo a leitora é uma consumidora de cerveja.
Pasme-se ainda mais ao saber que as mulheres não só também produzem, vendem e comercializam cerveja, como são muito competentes a fazê-lo, por sinal! Aliás, o papel da mulher na produção de cerveja remonta ao tempo da civilização Suméria, ou seja, há cerca de seis mil anos. Naquele tempo, e até uns bons séculos depois, a agricultura e a produção/confeção da alimentação era da responsabilidade das mulheres. O conhecimento sobre a terra e o clima, as habilidades desenvolvidas para o plantio, o cultivo e colheita dos grãos e a preparação dos alimentos para as famílias eram tarefas quase exclusivamente desempenhadas por mulheres. Não é de estranhar, portanto, que as mulheres tenham sido as primeiras produtoras de cerveja! O que não sabia certamente é que em algumas culturas os grãos de cereais eram inicialmente mastigados pelas mulheres para que o amido neles contido pudesse ser hidrolisado pela amílase salivar e posteriormente sofresse a fermentação alcoólica necessária para a produção desta bebida milenar. Também a descoberta do lúpulo (e as suas importantes propriedades nutritivas, organoléticas e de conservação) se deve a uma monja alemã! Quer melhor ou mais antiga relação entre a cerveja e as mulheres?
A partir do século XVIII, com a revolução industrial, o panorama começou a mudar: a produção foi deixando de ser artesanal e passou a ser industrial, as mulheres foram afastadas da confeção de um número crescente de produtos, ficando remetidas a trabalho caseiro, não podendo assumir qualquer tipo de lugar de destaque na sociedade. O afastamento foi tal que não ficaram arredadas apenas da produção, mas também do consumo de cerveja!
Felizmente os tempos estão de novo a mudar. A mulher deixa progressivamente de estar apenas associada ao marketing/publicidade de produtos, através do culto do corpo e da beleza (e não como público-alvo!), e conquista o seu espaço na indústria cervejeira, com as suas criações e outras contribuições quer como produtora, proprietária, empreendedora, mestre cervejeira ou líder de produção caseira, artesanal e industrial. Mas também como consumidora, representando agora cerca de 40% da cerveja consumida no nosso País (segundo a Associação de Cervejeiros de Portugal, em 2022).
A cerveja por si só, não tem género. Porque haverá de ter o seu consumo? A pressão de (1) uma desatualizada publicidade ainda centrada no público masculino, (2) um culto de beleza que desaprova uma barriga ainda (erradamente) associada ao consumo de cerveja, (3) um sabor tradicional de difícil aceitação por uma percentagem significativa de mulheres e (4) um receio do julgamento de terceiros pelo facto de se beber cerveja, são as barreiras que ainda afastam mulheres do consumo desta bebida. Em termos nutritivos, o consumo moderado de cerveja (e da componente não alcoólica da cerveja) não só contribui para a proteção de massa óssea em mulheres pós-menopausa, como não tem o efeito deletério anunciado sobre o perímetro abdominal, para além do efeito benéfico já descrito para a saúde cardiovascular já anteriormente descrito para homens e mulheres.
Porquê limitar o prazer do sabor de uma boa cerveja apenas por causa de possíveis preconceitos? Liberte-se dos estigmas e abra as portas a uma nova experiência de degustação com cerveja 0.0% álcool, permitindo-se desfrutar do sabor rico e refrescante da cerveja sem comprometer a sua saúde ou o seu bem-estar. Com uma dose moderada de 33cl por dia, pode saborear cada gole sem quaisquer preocupações.